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Reflexões sobre cansaço

  • Juliana Pellegrino
  • 25 de set. de 2022
  • 3 min de leitura

Em pleno domingo, após uma semana cansativa e de uma sequência de muitos finais de semana com compromissos, me pego querendo deitar na rede e ficar a toa, vendo meus bichos brincarem, ficar olhando o céu e me percebo culpada por isso. Penso: “tenho que acabar de cortar a grama, tem aquele livro que não terminei de ler, preciso ver se meus orientandos estão precisando de algum suporte no TCC, saiu sol tenho que por roupa para lavar…”

Mil “deverias” se instalam e a ansiedade vem e o cansaço pesa ainda mais.


Venho refletindo muito sobre “cansaço”. Principalmente nesses dois últimos anos em que esse tema parece que se tornou algo que afeta todes meus amigues, pessoas que atendo e a mim mesma. Queixa constante de muitos.


Vivemos, já faz tempo, uma sociedade que se alimenta de uma hiperprodução, de excesso de tudo. Não nos é autorizado parar. Até nos momentos de descanso é essencial que se esteja fazendo algo: precisa-se viajar, conhecer lugares, estar com muitas pessoas, ir nos locais da moda… Ir, fazer, produzir, não parar…

Dorme-se pouco, alimenta-se mal por falta de tempo…

Para alguns "não existe" sequer a opção de fazer diferente no que diz respeito a trabalho. Sabemos que as desigualdades sociais resultam em um cenário que pensar em alimentação, por exemplo, é luxo. Come-se o que pode, o que tem… dorme-se se der… trabalha-se horas injustas e inimagináveis para não se ter nem o mínimo muitas vezes.

O cansaço também precisa ser visto em recorte social. Meu cansaço não será o mesmo que o de uma pessoa em situação de vulnerabilidade e também não será igual ao de uma pessoa que vivência um cenário de riqueza capital. Também é necessário ser pensando por recorte de gênero, orientação sexual, etc. Os estresses e as cobranças da vida podem ter um fio compartilhado, mas existem fios que cortam certos grupos e fios que não.

Porém, vivemos e compartilhamos de um mesmo cenário em algum aspecto e não podemos deixar de pensar que somos todos, em algum ponto, ensinados a não poder parar. Não poder não produzir. Ser produtivo é estar vivo (e essa é a lógica que sustenta essa roda capitalista).

Precisamos pensar em parar. Nos permitir existir no ócio!

Não nos por em estímulos 24h por dia com celulares e telas. Acordamos pegando o telefone, dormimos olhando o telefone. Somos sobrecarregados com anúncios de: cursos, de como ter mais seguidores, de como não ser um fracasso em nossas profissões, em como fulana aos 22 anos consegiu capital de 1 milhão de reais em como ser mais produtivo... Somos bombardeados com frase de impacto (sic) “Trabalhem enquanto eles dormem”,

“Foguete não tem ré”, "Sem dor, sem crescimento"...

Mas não somos foguetes. Somos seres humanos. Somos animais.

E todo animal na natureza tem seu ciclo de reclusão. Pássaros, mamíferos, entre outros, funcionam num ritmo ligado às necessidades biológicas. Param quando precisam, seguem quando precisam.

Toda a lógica social que vivemos nos impede de sentir a nós mesmos.

Parem. Apenas parem. Um pouco. Não façam nada. Não se exijam nada. Só se deixem ser no ócio.

Na proporção possível a cada realidade.

Vocês não são máquinas. Lembrem da humanidade/animalidade de vocês e a dos que partilham esse mundo com vocês. Vivam toda a potência de vocês, inclusive parando quando necessário. Parar também é potência.


Esse não é um texto de positividade tóxica, esse não é um texto que diz para irmos para floresta viver das coisas que a natureza nos dá (mas se quiser ir, super popode É apenas uma reflexão sobre como parar também é uma necessidade.



 
 
 

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