Por que amar quem não me quer?
- Juliana Pellegrino
- 6 de jan. de 2018
- 3 min de leitura

É notável a quantidade de pessoas que chegam ao consultório movidas por insatisfações em relacionamentos amorosos. Principalmente por relações passadas mal digeridas, ou paixões presentes mal resolvidas.
Vale destacar que, por mais que essas questões tenham um fundo particular em cada indivíduo e exista todo um caminho psicológico para a construção de cada cenário, é inegável que crescemos em uma sociedade que estimula a naturalização do “amar quem não nos ama”.
Desde pequenas meninas escutam:
Ih, mas se esse menininho está implicando com você é porque ele gosta de você! menino é assim mesmo, não sabe demonstrar que gosta!*
Por sua vez os meninos escutam:
Se ela “não te dá bola” é porque com certeza gosta de você!*²
Muitas vezes tais tipos de fala ficam de fundo no imaginário infantil e são transportados para a vida de adulto.
Quantos relatos presenciei de pessoas em relações onde o(a) parceiro(a) claramente expressava a vontade de não estar junto, mas a pessoa se negava a abrir mão do relacionamento. Ou estavam insatisfeitos na relação, desejosos de terminar, mas quando o outro termina o relacionamento a pessoa “rejeitada” passa desejar novamente ter aquele par.
Acima de tudo, as relações parentais disfuncionais também (e principalmente) passam para os filhos um fundo de que “toda relação é assim”. Entende-se por relações parentais disfuncionais tanto o relacionamento do casal quanto a relação dos pais para com os filhos.
Crianças que experimentam um afeto interrompido dos pais, aquele amor mal demonstrado ou mesmo a ausência dele, têm de fundo a construção de um olhar para o amor baseado na falta.
Como isso pode ganhar espaço na vida adulta?
Quando algo se torna um padrão disfuncional em nossas vidas é possível que estejamos experimentando uma situação inacabada do passado e vivenciando-a por conta deste passado simultaneamente de forma desatualizada no presente.
É como se uma memória afetiva fosse resgatada em um situação presente que remete à primeiramente experienciada. Ela volta de forma a reviver um sentimento que, anteriormente, não havia sido demonstrado.
Mas se não experimentamos bem o desprezo na infância como podemos nos interessar por isso quando adultos?
O desprezo é um sentimento que desafia e isso faz com que nos sintamos convidados a corresponder tal desafio. Ele faz com que questionemos nossa própria construção como pessoa. “Será que não sou suficientemente bom para receber esse amor?”, “Preciso provar pra essa pessoa o quanto eu valho à pena”, “Ela(e) não pode arrumar outra pessoa que seja melhor que eu”.
No fim, muito disso tudo se relaciona ao medo de fracassarmos. Por mais surpreendente que pareça, ser amado é algo que assusta.
Quando aceitamos um relacionamento saudável, quando nos permitimos estar com alguém que nos ama, assumimos a responsabilidade de uma realidade de amor e não mais de uma idealização. Somos chamados a olhar para nosso próprio potencial.
Não há como viver um amor sem se amar. Não há como viver um amor real colocando-o no lugar de uma outra relação mal suprida.
Contra o que será que você luta? O que há por trás de seus padrões relacionais?
No fundo de uma situação disfuncional é comum haver muito mais do que parece. É importante que os medos, dores e raivas passadas sejam encaradas para que elas não sejam vividas “por tabela” em novas histórias.
Contextualizar ações pode te libertar de muitas situações disfuncionais.
Que tal começar a viver no presente?
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