Sobre o viver e o cuidar
- Juliana Pellegrino
- 4 de jan. de 2018
- 3 min de leitura

Fui criada por uma mãe que adora plantas, principalmente as que florescem. Foram anos observando essa relação de mamãe com as plantas. Era curioso como ela mudava o mesmo vaso de lugar, várias vezes ao dia. Ou como cada planta ganha uma quantidade diferente de água e em dias diferentes também. No inverno, algumas precisavam de mais atenção. Outras ganham mais vida do que nunca. Era incrível, também, como as plantas decaíam quando mamãe não estava bem. Não, não era por ela não estar conseguindo ter os cuidados de sempre. Ela ia lá, todo dia, na mesma rotina de sempre, mas as plantas não respondiam da mesma forma quando ela estava amargurada ou triste.
Na minha cabeça essa relação da minha mãe com as plantas era só pra que ela pudesse ter uma rotina prazerosa, em meio ao caos de trabalhar o dia inteiro, cuidar da casa, de mim, ser esposa. Para mim era um jeito dela ser mais ela. De cuidar de si quando cuidava daquelas plantas. Afinal, pensava eu, para ter uma planta é só escolher um lugar que fique bonita na casa, deixar lá e lembrar de regar. E se minha mãe mudava tanto uma planta de lugar era por indecisão de onde colocar ou para distração.
Ora veja que pensamento o meu... podia até ser que ela tivesse, como uma forma de cuidar de si, o hábito de mexer com as plantas. Só ela pode dizer isso, na verdade. Mas com certeza todas as rotinas iam muito além de “só distração”. Mas como eu fui uma criança que escondia meus achismos só pra mim e não perguntava minhas grandes dúvidas pra ninguém, só fui aprender a importância desse passos, não só para jardinagem como pra toda a vida, já adulta.
Acontece que, pra uma planta crescer em sua potência, ela precisa de um “sol específico” (sol forte ou fraco, o dia todo ou em períodos). Algumas precisam de certos insetos pra ajudar, outras já não pode tê-los. Umas podem molhar as folhas, outras morrem mais rápido se as folhas forem molhadas. Nossa, são muitas as variáveis pra que elas fiquem bem. Então, quando cada uma “adoecia”, minha mãe olhava todo o ambiente em que aquela planta estava: terra, vaso, sol, água, vento. Tudo isso era minuciosamente observado antes de declarar aquela planta morta.
“Juliana, isso é um texto sobre jardinagem ou sobre psicologia?”
Bom, esse é um texto sobre vida!
Cada um de nós é exatamente como as plantas da minha mãe. Cada um cresceu em um ambiente diferente, com histórias diferentes, sendo cuidado e alimentado de maneiras diferentes. Mesmo dentro de uma família, recebendo as “mesmas coisas”, cada um absorve seu ambiente de maneira única e precisa receber cuidados específicos às suas necessidades. Todos nós somos, por dentro, um universo inteiro. Somos repletos de coisas que funcionam interligadas e, para cuidarmos de nós, precisamos ter conosco a mesma atenção e respeito que minha mãe tinha para com suas plantas.
Se não estamos bem, precisamos olhar pra tudo e todos que nos cercam. Temos que olhar pra tudo que guardamos em nossa mente e como guardamos. É preciso interligar todos os nossos pedacinhos pra podermos, então, mexer no ponto que está recebendo menor atenção e assim fazer com que o processo de vida aconteça de maneira satisfatória. Cumprindo e respeitando suas etapas. E você, desabrocha ou retrai seu crescimento?
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